GPS EPIC 2016 – Drave (Etapa 1)
Depois da etapa 0 do circuito GPS EPIC Series de 2016, não podíamos deixar de marcar presença na etapa 1 “Drave – O Regresso”, organizada pela Ecobike.
O arranque fez-se bastante cedo. Às 6h30 já estávamos a caminho de São Pedro do Sul (Viseu), município onde estava montado o local de partida. Éramos 12 elementos. 7 para a vertente de BTT e 5 meninas para a caminhada de 8 quilómetros que iria cruzar a aldeia da Drave.
Fonte da organização garantiu antecipadamente que mais de 800 pessoas se iam aventurar a pedalar na Serra da Arada e na Serra de São Macário, e percorrer as suas belas Aldeias de Portugal, caminhos e locais carregados de histórias e tradições.
Em São Pedro do Sul a animação era evidente. Centenas de bicicletas, capacetes, mochilas, equipamentos, equipas, etc. davam o mote para um evento que mais tarde seria ÉPICO.
Levantamos os dorsais, bebemos café, reforçamos o corpo com um pequeno almoço extra e decidimos rapidamente seguir o track que a hora parecia tardia para um terreno que não conhecíamos.
Descemos de imediato para a margem do Rio Vouga e seguimos em direção à parte norte do concelho. A partir da freguesia de Sul iniciamos uma das primeiras subidas do dia. O caminho municipal em alcatrão com acentuada inclinação fez-se durante alguns quilómetros até descermos a Fujaco, uma pequena aldeia do concelho de São Pedro do Sul, com habitações típicas em xisto e lousa, aconchegadas e aglutinadas em socalcos verdes e verticais numa encosta da Serra da Arada. Nas ruelas, populares saudavam os betetistas que ali passavam, enquanto tentavam não afugentar as dezenas de cabras que passeavam no caminho principal da aldeia. Percebemos que estávamos perante uma aldeia cheia de histórias e boa gente, mas não quisemos fazer uma paragem muito prolongada. Nem o momento era o mais oportuno para degustar um Cabrito ou Vitela Assada no Restaurante Rochedo (fica para uma próxima).
Depois de Fujaco tínhamos uma prova de montanha: um acumulado positivo de 500 metros, distribuídos por 3 quilómetros serra acima, que valeram o primeiro empeno do dia. Este trecho do percurso deu para tudo. Até para apostas de quem iria conseguir chegar mais longe na subida sem desmontar. A verdade é que conseguimos pedalar a maior parte destes poucos quilómetros, mas em velocidade pouco ou nada ganhamos aos colegas que subiam com a bicicleta à mão.
Tínhamos pouco mais de 21 quilómetros, 2 horas cicláveis quando começamos a romper, trilho fora, as estações eólicas em direção ao Portal do Inferno. Mas, nem por estarmos em terreno liso conseguimos melhorar a velocidade média. O vento que se fazia sentir na Estrada do Portal do Inferno era brutal e fazia-nos andar cuidadosamente para evitar quedas.
Com 30 quilómetros completos e a uma altitude de 1000 metros conseguimos pela primeira vez avistar Drave bem lá no fundo das serras. Descemos para Regoufe por um percurso empedrado e perigosíssimo. Tentamos estar o maior número de tempo em cima da bicicleta e uma vez mais ultrapassar um desafio épico.
Em Regoufe, uma aldeia da freguesia de Covelo de Paivó, concelho de Arouca esperava-nos o reforço. Da aldeia ficou-nos na memória o cheiro da criação de animais, a pastorícia e a agricultura. E gente simpática que nos saudava a cada subida ou descida no meio da aldeia. Fizemos uma pausa superior a 1 hora para agrupar todo o grupo que entretanto se tinha partido nas subidas e descidas da Serra da Arada. Aqui cruzamo-nos com o grupo da caminhada que vinha também ao reforço depois de terem passado parte da manhã em Drave.
De Regoufe a Drave são 4 quilómetros marcados por um percurso pedestre bastante empedrado. Tanto o acesso a Regoufe como a Drave foi feito a um ritmo muito lento e poucas vezes ciclável. Com 37 quilómetros estávamos em Drave. Fizemos uma pausa para visitar o pouco que existe nesta aldeia desabitada, situada entre a Serra da Freita, Serra de São Macário e Serra da Arada. Uma aldeia isolada, típica, com edifícios em ruínas de lousa e xisto, com arruamentos irregulares e pouco cicláveis. Cheia de histórias. Onde desde 2003 o CNE tem a sua Base Nacional da IV secção (um centro escutista para caminheiros), tendo ao longo dos últimos anos efetuado trabalhos de reconstrução no sentido de desenvolver atividades de retiro, permitindo assim a reconstrução e manutenção da aldeia.
Ao longe visualizamos outros betetistas a subir serra acima com a bicicleta às costas ou pela mão. Tarefa difícil. Elementos da organização estavam meio quilómetro após Drave a dar café aos participantes. Indicaram-nos que teríamos cerca de 4 quilómetros a subir até à estrada principal. Nesta fase o grupo estava partido em três. O Edgar e a Alice seguiam na frente. Poucos minutos depois da pausa para o café o tempo escurece e a chuva começou de imediato a cair a uma velocidade surpreendente e com um peso significativo para o corpo que entretanto estava todo encharcado. Seguimos, preocupados com o destino dos colegas que estavam cerca de 30 minutos para trás.
Alcançamos o topo e a estrada principal com cerca de 41 quilómetros. Os bidões estavam sem água. Os corpos gelados. E o vento continuava extraordinariamente veloz. O nevoeiro seria o próximo problema dado que o campo de visão já era inferior a 200 metros. Neste ponto decidimos que o melhor seria efetuar a descida pela estrada evitando assim uma parte do track que era uma descida monstruosamente complicada, segundo elementos da organização. Mas, nem o facto de estarmos a descer em direção a São Pedro do Sul nos animava. Tínhamos quase 20 quilómetros para percorrer e o frio tomara conta das nossas forças. Faltavam energias para travar ou mudar de velocidade. Só as pernas conseguiam ainda impor um ritmo de trabalho suficiente para dar algum calor ao corpo. Tapamos as caras com um buff que levávamos na cabeça. A região onde estávamos estava, ainda, a uma altitude muito alta. Não tínhamos rede de telemóvel. Não havia nenhuma civilização por ali. A chuva era invariavelmente misturada com saraiva o que parecia que nos golpeava a cada segundo.
À medida que íamos descendo percebemos que alguns dos participantes estavam já a contactar a organização devido a problemas de hipotermia. Paramos para atender o telemóvel que entretanto conseguira rede, mas os dedos gelados foram incapazes de deslizar para o fazer atender. De volta à estrada começamos a ver placas sinalizadoras com São Pedro do Sul. E deixamo-nos literalmente descer estrada abaixo, a pedalar para não perder os sentidos, a manter o corpo equilibrado na bicicleta e os dedos apontados aos travões, dado a velocidade que circulávamos.
Chegamos a São Pedro do Sul com 60 quilómetros. Num dos melhores circuitos de GPS que já fizemos. Onde a tempestade conseguiu fazer deste dia, ainda, mais ÉPICO.
Ficamos sem dúvida com uma grande amizade por Drave e por todas as serras que cruzamos nesta aventura.
Parece ter sido uma grande etapa! Será possível arranjar-me o track?