GPS EPIC 2017 – Miranda do Corvo

A primeira etapa do GPS Epic Series teve este ano lugar em Miranda do Corvo, uma vila do distrito de Coimbra, que ambicionávamos percorrer há bastantes anos. Uma edição com organização do Ecobike, com o título “À descoberta do Xisto – Serra da Lousã” e onde estiveram presentes quase um milhar de participantes. Repartidos pelos percursos de 30 km, 60 km ou 80 km.

Saída ainda de madrugada de Famalicão, com a checklist de material e equipamento confirmada e re-confirmada. E uma leitura atenta pelas 20 e muitas páginas do Guia do Participante que a organização partilhou antecipadamente. Uma viagem rápida com a noite a desaparecer já perto de Coimbra. Pelo caminho, dezenas de viaturas com bicicletas eram visíveis e anteviam uma “casa cheia”.

Chegados a Miranda do Corvo, o levantamento dos dorsais procedeu-se em alguns (largos) minutos. E a partida para os 80 quilómetros ou pelo menos aqueles que o corpo, a serra e o tempo o permitissem, foi tardada pela roupa, equipamento, alimentos e outras coisas que vão sendo habituais nestes eventos. À última da hora sinto frio. O Miguel empresta-me de imediato um casaco mais quente, enquanto o restante grupo me força a levar o impermeável na mochila. No centro da vila avistávamos nuvens cinzentas e o sol permanecia de forma modesta.

Mercado Municipal de Miranda do Corvo
Saída da Vila de Miranda do Corvo

Saímos a um ritmo rápido do centro da vila em direção a Espinho onde nos esperava o primeiro combate da manhã. Se até aqui tínhamos subido ligeiramente (dos 100D+ aos 250D+ em 5 quilómetros) era aqui que estava a primeira meta a alcançar: a Ferraria de São Simão. Sem parar para pensar foi cada um por si até ao topo. Em 5 quilómetros tínhamos feito 400D+ num corta fogo inclinadíssimo e empedrado. Já havia passado pouco mais de uma hora e só tínhamos 12 quilómetros.

Entretanto, com o sobe e desce no topo da serra, desaba sobre nós uma monumental chuva que nos fez parar para vestir os impermeáveis. Até aqui o percurso tinha sido maioritariamente percorrido em largos e inclinados estradões.

Aos 18 quilómetros somos brindados com mais uma vertiginosa subida desta primeira parte. De seguida, uma extraordinária descida num single track marcado por traços frescos de bicicletas. A chuva havia parado e a fome abundava na maior parte de grupo.

Chiqueiro – Aldeia de Xisto

Aos 20 quilómetros entramos em Chiqueiro, a primeira Aldeia de Xisto desta aventura. Pouco habitada, pequena e maltratada pelo tempo e pelo homem que atualmente a recupera aos poucos em obras de remodelação bem visíveis. Para trás ficou o xisto negro de Chiqueiro e os magníficos estradões. Agora pedalávamos ou carregávamos a bicicleta às costas em caminhos de xisto muito assimétricos.

Talasnal – Aldeia de Xisto

Em Talasnal fizemos a primeira paragem a combinar com o nosso ritmo: lento. Esta Aldeia de Xisto na Serra da Lousã de maior dimensão que Chiqueiro está também num cenário envolvente mais agradável. As ruas apertadas dão lugar aos turistas que ali encontramos, a casas reconstruídas e a alguns estabelecimentos comerciais que existem no local. Fomos ao Curral um café no centro da aldeia com 1,20m de entrada de porta e uma decoração no interior trazida de um ou dois séculos atrás. O reconfortante café deu-nos então energia para enfrentar a larga e moderna estrada de alcatrão que encontramos na saída/entrada principal da aldeia.

Talasnal – Aldeia de Xisto
O Curral em Talasnal – Aldeia de Xisto
Informações na entrada/saída de Talasnal

Até Vaqueirinho foi sempre a puxar, e a subir. Não circulamos no interior desta aldeia pelo que não sabemos ao certo como é a sua povoação. Seguimos o track em direção a Catarredor por um percurso irregular com linhas de água e formação de lama que nos transformava nos verdadeiros campeões da gincana em cima da bicicleta.

Algures na estrada pavimentada entre Talasnal e Vaqueirinho
Parte de um PR entre Catarredor e Candal

Em Catarredor encontramos o maior grupo de participantes deste GPS Epic Series. Era aqui que a organização disponibilizava um posto de abastecimento com bifanas em pão para reforçar o corpo para mais um troço até Candal. Não paramos para evitar mais atrasos e seguimos o trilho.

Saímos à estrada N236 onde vários participantes mudavam estratégias: para percorrer menos quilómetros ou segundo eles para evitar a grande subida depois de Candal. Neste ponto decidimos abandonar a ideia de percorrer os 80 e carregamos para o GPS o track dos 60 quilómetros. Em Candal paramos para encher os bidões com água. Esta pequena aldeia está localizada numa colina voltada a sul na Serra da Lousã e é facilmente acedida pela estrada nacional que liga a Lousã a Castanheira de Pera. Segundo a sinalética lá presente é um ponto de apoio para quem sobe ou desce a serra. Aqui ganhamos coragem e carregamos a bicicleta às costas por mais de 100 metros verticais. Sim, verticais! E aqui venceu quem tinha a bicicleta mais leve. A vista do Miradouro de Candal para o vale é imponente. Estávamos convictos que o maior desafio ainda estava para chegar…

Encosta da Aldeia de Candal
Miradouro da Aldeia de Candal

Depois de Candal foi sempre a subir, com a bicicleta à mão e a carregar simultaneamente no travão dada a inclinação do terreno. Chegados ao topo abate-se novamente uma tempestade como já não sentíamos há vários meses. Estávamos separados em dois grupos e com o frio (0 graus) decidimos prosseguir até encontramos um ponto de abrigo. A dificuldade era tal que o nevoeiro no alto da serra tornava a visibilidade reduzida.

Daí seguimos até ao Parque Eólico do Coentral mesmo na linha que separa o distrito de Coimbra do distrito de Leiria. O frio começava a fazer estragos no corpo e na mente. Estávamos cada vez mais lentos e impotentes para enfrentar aquele gigante vento. Queríamos sair o mais rápido possível da linha do parque eólico e procurar um sítio abrigado para esperar pelo segundo grupo. Mas, a serra ordena e nós submissos às suas ordens, respeitamos e fazemos o corpo gerar um pouco mais de calor para suportar o frio durante mais uns minutos.

O GPS faz-nos seguir um singletrack lamoso e escorregadio num fantástico bosque mesmo por baixo das élices que não avistávamos por causa do nevoeiro. Descemos um pouco e esperamos pelo segundo grupo que apareceu em cerca de 20 minutos. Estávamos gelados, arrepiados e a tremer. Continuamos a descida separados por um pedaço de estrada em alcatrão retirando as luvas que gelavam os dedos que ficaram impossibilitados de agir para travar.

Cruzamos uma nova linha de eólicas numa descida cheia de areia e brita onde uma dupla de participantes apoiava um colega completamente arrasado e espatifado por uma brutal queda [esperamos uma rápida recuperação]. Neste segmento do percurso aquecemos novamente e começamos a desfrutar da descida nos largos estradões de terra que permitem o acesso aos parques eólicos ali existentes.

A chegada a Gondramaz fez-se por um novo bosque de terra preta e mole onde pudemos executar drifts ágeis e sem grande perigo. Já na aldeia, decidimos aquecer um pouco no restaurante Pátio do Xisto com um chá simpaticamente servido pela proprietária do espaço, mesmo com a lama que abundava no nosso calçado e restante equipamento. Este local foi talvez aquele que nos pareceu mais recuperado e com maior oferta e dinamismo turístico.

Acesso à Aldeia de Gondramaz

De Gondramaz a Miranda do Corvo procuramos aumentar a velocidade tendo sempre em conta que este troço era um percurso muito acidentado, técnico e perigoso.

A chegada a Miranda do Corvo fez-se um pouco mais de 4 horas depois com quase 60 quilómetros e vários momentos com temperaturas a bater nos 0 graus. No final brindamos com as ofertas simpáticas da organização com Jeropiga e Licor Beirão enquanto degustamos um tradicional doce da região.

A Serra da Lousã marcou sem dúvida o nosso regresso às grandes aventuras épicas e ficará certamente nos locais a visitar no regresso do calor. As condições atmosféricas privaram-nos certamente de paisagens invejáveis e o frio condicionou a nossa cadência, não nos permitindo subir ao Alto de Trevim como era desejado. Fica para uma próxima!

Vídeo EPIC GPS em Miranda do Corvo

Fotografia/Vídeo: Lino Oliveira

Texto: Edgar Costa

3 thoughts on “GPS EPIC 2017 – Miranda do Corvo

  • 20 de Fevereiro de 2017 at 18:29
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    Muito bem, Edgar, eu não diria melhor…
    Por culpa da meteorologia, só tive pena de não cobrir melhor a reportagem fotográfica, mas brevemente o vídeo complementa e ilustra melhor o que vivemos neste dia realmente épico!

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  • 20 de Fevereiro de 2017 at 21:37
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    Boa descrição da aventura. Se fizeram o GEO60 … nem sabem os problemas que evitaram ao não fazer os pontos mais altos a 1200 metros de altitude. Demoravam mais tempo e andariam 20 km a um nível elevado até chegar ao parque eólico em que passaram. Fomos três … e alguém tinha de ceder … faz parte. Só assim se consegue perceber como reagiremos numa futura ocasião. De qualquer modo fiquei satisfeito por ter conseguido fazer o GEO80 … pena foi ter de arrastar dois amigos atrás de mim que … um porque conhecia melhor que eu a serra … outro por ser o meu asa … que ficou chumbado à saída de Santo António das Neves.

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    • 22 de Fevereiro de 2017 at 22:21
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      Obrigado Paulo pelo comentário!
      Até ao próximo GPS EPIC.

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